Andrea Dipe caros leitores,
Sou médico e gostaria de me manifestar o texto, de forma pacífica. E espero que minha crítica seja construtiva. Meu propósito não é desmantelar o seu texto, Andrea, até porque sabemos que boa parte do que foi dito de fato acontece, infelizmente.
Embora sua matéria tenha fundamento e eu concorde com parte do que você escreveu, existem conceitos inseridos nele que, lidos por um leigo, são certamente são interpretados de forma equivocada. E quando me refiro a “leigo”, também me refiro a você, respeitosamente, porque me refiro às pessoas que não têm conhecimento médico a ponto de entender o que faz sentido e o que não tem o menor sentido ser escrito num texto como o seu.
Dou exemplos. O início do seu texto me chamou muito a atenção. Você se refere ao descolamento da membrana, uso da ocitocina, anestesia e episiotomia de forma muito negativa. Negativa demais, eu diria. Aquele que a lê passa a ver tais procedimentos como práticas desviadas da conduta médica correta.
O defeito grosseiro do seu texto não está em citar tais práticas, mas em condená-las de forma geral, como se todos eles tivessem sido incorretamente aplicados.
Não se descola a membrana de uma gestante porque a “barriga está grande”. Nem se realiza a episiotomia para “facilitar” a saída do bebê do corpo da mãe apenas para ganhar tempo. Existem indicações para isso. Indicações médicas, precisas, éticas e corretas.
Talvez tenham errado em não perguntar a você se você queria receber analgesia (e não anestesia, como erroneamente você também escreveu. São coisas totalmente diferentes.), mas antes de escrever você também deveria ter consultado um especialista da área para saber que sem anestesia você teria um período expulsivo prolongado, o que pode prejudicar o seu bebê, não você. A episiotomia, por vezes, é necessária sim, pois, se não realizada, pode levar ao rompimento do seu períneo e você ficar com incontinência fecal. Você leu sobre isso? Sem considerar o estresse ao qual o bebê está submetido (fisiologicamente) num parto.
Um outro ponto que me chama a atenção é o seu pai querer bater no funcionário da recepção. Sugiro uma matéria sobre a violência contra profissionais da saúde (médicos, enfermeiros, assistentes sociais, recepcionistas de hospitais). Ameaças, agressões verbais e físicas entre outras barbaridades são também realidade no Brasil. E entenda: os médicos, enfermeiros e recepcionistas não têm culpa das mazelas do Sistema de Saúde. E infelizmente temos que enfrentar todos os dias pessoas como o seu pai, que querem resolver o problema do familiar na porrada.
O seu texto, Andrea, alerta a população sobre muita coisa, mas tem um caráter bastante parcial e negativo sobre coisas que não deveriam ser discutidas numa matéria como esse, pelo menos não dessa forma. Você tem toda a liberdade para escrever, mas neste caso lhe faltou a pesquisa sobre o que mencionei acima, dentre outros erros grosseiros.
Continue escrevendo sobre o assunto. Concordo plenamente que isso precisa ser discutido. Mas não demonize o processo como um todo quando falta informação a você (e aos leitores) necessária para uma formação de opinião. Informar errado é pior que não informar.
Obrigado,
Carlos